Abuela Grillo: o direito universal à água

De forma lúdica e sutil, “Abuella Grillo” mostra o tamanho valor da água em nossas vidas. Mais que isso, destaca a importância da luta dos povos originários contra sua mercantilização. A animação é baseada em uma lenda milenar do povo boliviano Ayoreo, que conta a história de uma avó (uma abuela), que era um grilo chamado Direjná. Dona da água, por onde quer que ela passasse com seu canto de amor, a água brotava. Certa vez, no entanto, a avó fez chover tanto sobre o povoado que ele se inundou. Seus netos, então, pediram a ela que abandonasse o lugar. Com muita tristeza, ela deixa a comunidade e segue caminhando sem destino, enquanto, aos poucos, os Ayoreo começam a padecer pela grande seca e pela falta de alimentos.

Já arrependidos do erro, eles decidem buscar a Abuela Grillo que, após um pedido de desculpas, decide retornar à comunidade. Ao chegar no povoado, porém, ela vê que algumas coisas haviam mudado, como a presença do fogo e o uso deste no cozimento dos alimentos. Como esse estranho calor a afetava muito, a ponto de torná-la mais grilo, ela então decide buscar outro lugar para viver. E assim resolve visitar os oito céus da crença Ayorea, escolhendo um deles para morar. Nele, além de se sentir muito bem, ela podia mandar chuva a seus netos, quando eles precisassem.

O poder da luta popular

Já na animação, produzida na Dinamarca pela Comunidade de Animadores Bolivianos e pelo The Animation Workshop, após ser expulsa do povoado e iniciar sua triste viagem, a Abuela Grillo é encontrada por empresários que logo começam a explorar seu dom. Ao aprisionarem a abuela, eles começam a vender sua água à população cobrando preços absurdos e inacessíveis. Até que um dia, ao se dar conta dessa exploração, a abuela se rebela com tamanha força que uma tormenta se inicia pondo um fim à situação.

Trata-se de uma forma lúdica de relembrar um histórico episódio vivido pelos bolivianos de Cochabamba, em 2000: a Guerra da Água. Após a multinacional Aguas del Tunari (filial do grupo norte-americano Bechtel) tentar subir suas tarifas de forma abusiva, a população se viu obrigada a se rebelar contra a privatização de seu bem mais básico: a água. Com greves e manifestações de trabalhadores por todos os cantos, a dimensão do protesto foi tamanha que a empresa abandonou o mercado boliviano, o contrato da água foi cancelado e uma nova companhia foi instalada sob o controle público. Uma vitória popular pelo direito universal à água!